Coluna de Laura Medioli homenageia torcedora símbolo do Cruzeiro

12/04/2012 at 18:18

Coluna publicada em O Tempo, em 10/04/12
Ânimos esquentados
Da cadeira do ginásio do Riacho, em Contagem, de onde assisto aos jogos do Sada Cruzeiro, procuro, na arquibancada, aquela figura extravagante, com seus longos cabelos mesclados de branco e louro e sua raposa de pelúcia. Costuma sentar-se sempre no mesmo lugar – empolgada e empolgante -, já conhecida pelos torcedores celestes.No dia em que se atrasa, fico preocupada: cadê a mulher da raposa? Basta dizer isso que todos sabem a quem me refiro. E ela sempre aparece com sua camisa azul, seus cabelos compridos, a face marcada pelo tempo e pela vida. De onde vem? Não fazia ideia. Mas gostava da presença constante daquela senhora diferente, divertida e apaixonada.

Até que, nesta semana, indo ver os treinos do meu time de vôlei, na sede do clube, no Barro Preto, vejo ao longe os mesmos cabelos tingidos, as unhas pintadas de azul… Será???
Pergunto-me, curiosa, até perdê-la de vista. Subo ao centro de treinamento e a primeira pergunta que faço é:

– A mulher da raposa trabalha aqui? Descubro que sim e também que seu nome é Salomé, antiga faxineira do clube.

Adoro figuras assim. Torcedores folclóricos que fazem a diferença. Virei fã da Salomé, senhora humilde que, após um dia exaustivo de trabalho, costuma ir a Contagem, a um ginásio, provavelmente distante de onde mora. Ela e sua raposa, somente para ver o Sada Cruzeiro jogar.

Nesse dia em que a descobri, discutíamos a questão dos ingressos. Nosso adversário dificultara a disponibilidade dos mesmos. Isso porque nosso time também não ofereceu a eles os 20% devidos, pois o prazo de requisição havia vencido. Em clima de decisão, os ânimos se alteram e, por mais que queiramos que tudo dê certo, não tem como. Procuro não me meter na confusão. Diferente do que era antes, hoje sou da turma do “paz e amor”.

– Por que não demos os 20%? Pergunto.

– Porque, quando pediram, já era fora do prazo e não tínhamos mais ingressos. Desisto de discutir o que não tem mais retorno. Os ingressos são poucos para a enorme demanda, mas peço, de antemão, para reservarem o da Salomé.

Daqui para frente, sei que será assim: ânimos acirrados, discussões movidas não somente pela razão, mas, também, pela emoção. Faz parte do jogo, principalmente nas decisões ganhas nos detalhes.

No domingo, dia 8, assisti, na TV, ao jogo de outra semifinal, entre RJX e Vôlei Futuro. Venceu quem teve mais raça. Numa melhor de três, será decidido o nosso adversário para a final da Superliga, no próximo dia 21.

Existem times que, com dinheiro, contratam desde os melhores e mais caros jogadores do país, e ainda compram 12 mil camisas para uniformizar uma torcida inteira. Entretanto, a “alma” de um time não se compra.

Seja como for, é gratificante ver os ginásios lotados, popularizando cada vez mais o que já é considerado o segundo esporte do Brasil, até há pouco tido como um esporte das “elites”.

Que venham os torcedores uniformizados, assim como as torcidas organizadas, trazendo paixão e alegria aos ginásios. Somente assim darão a esse belíssimo e empolgante esporte o verdadeiro valor que merece.

Emoção. Nesta semana, outra grande emoção: o primeiro transplante multivisceral (estômago, duodeno, intestino, pâncreas e fígado) realizado na América do Sul, pela equipe comandada pelo doutor Ben-Hur. A ele, ao doutor Sérgio e a toda a equipe, o meu mais profundo respeito e admiração.

LAURA MEDIOLI escreve no Magazine às terças-feiras.

Categoria: Superliga